Professora de Engenharia recebe o Prêmio CLAUDIA 2012 na Categoria Ciências

14/11/2012 10:04

Certo dia de março de 2012, Marcia Mantelli recebeu uma ligação cujo emissor da fala disse basicamente:

-Aqui é da Revista CLAUDIA e nós gostaríamos de informá-la que você foi escolhida como finalista do Prêmio CLAUDIA 2012 na Categoria Ciências. A única coisa que pedimos é que você reserve os dias sete e oito de outubro para a premiação.

Após a surpresa e a felicidade pela indicação, o combinado foi que Marcia receberia mais informações por email, entre elas, sobre as equipes que seriam enviadas para a realização das fotos, vídeos e entrevistas.

Passou-se uma semana, duas semanas, três semanas, e o tal email não foi encaminhado. Marcia comentou então com o marido: “Eu caí no conto do Prêmio CLAUDIA, que idiota que eu sou…”

Engano seu. Marcia Mantelli foi finalista e vencedora do maior Prêmio da América Latina dedicado às mulheres. O Prêmio CLAUDIA busca descobrir e homenagear pessoas competentes que realizam trabalhos importantes para a sociedade. São premiadas cinco mulheres nas categorias Ciências, Políticas Públicas, Cultura, Negócios e Trabalho Social.

Marcia Mantelli recebe Prêmio Claudia 2012 – foto: site da premiação

A seleção das finalistas começa no mês de março, quando a equipe responsável pela premiação convida cientistas, acadêmicos, empreendedores sociais, empresários, políticos, escritores e cineastas para indicar suas candidatas. Participantes de anos anteriores e leitoras também contribuem. Desta troca de informações, são selecionadas 250 mulheres e depois de uma rigorosa pesquisa sobre as realizações dos nomes sugeridos, são definidas três finalistas por categoria.

A peculiaridade da forma de escolha das candidatas engrandece a nomeação, tanto que, para Marcia, a conquista do Prêmio foi um detalhe, importante, é claro, mas um detalhe, diante do fato de ter sido escolhida entre tantas mulheres pesquisadoras e que também merecem o título de competentes, talentosas, inovadoras e empenhadas em construir um Brasil melhor.

Marcia Mantelli fez graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual de Campinas, Unicamp, mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaciais pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE e doutorado em Engenharia Mecânica pela University of Waterloo. Atualmente é professora adjunta do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina.

Na UFSC, ajudou a montar o Laboratório de Tubos de Calor (Labtucal), do qual é coordenadora. Os primeiros equipamentos foram comprados com recursos da Agência Espacial Brasileira, para atender a linha de pesquisa de controle térmico de satélites e desenvolver a parte de tubos de calor. Segundo Marcia, por uma questão política, o grupo nunca conseguiu colocar nenhum tubo de calor nos satélites desenvolvidos no Brasil, porque estes tubos são sempre adquiridos no exterior. A tecnologia desenvolvida passou então, a ser dirigida à resolução de problemas da indústria.

A professora acredita na vocação das pessoas, e na sua própria. Gosta de dar aulas, de motivar jovens. “Cada um tem que achar a sua função na sociedade. É ser feliz naquilo que faz e eu sou feliz naquilo que eu faço. A combinação de ensino e pesquisa, eu acho bem bacana, porque não é só pesquisa, é formação de gente também”.

Quando era pequena, já tinha vontade de ser professora, “mas não de gente grande né, imaginava dando aula de criança”. A brincadeira que ela mais gostava era a de corrigir provas. Não imaginava que quando se tornasse professora de gente grande, esta se tornaria a tarefa que mais detesta cumprir.

Já para explicar a veia científica, Marcia cogita os fatos de sempre ter tido facilidade em matemática e física, ou então ter vindo de uma família de engenheiros… Mas na verdade, ela sempre gostou muito de ler, e lia também gibis. Entre os personagens da Disney, o seu preferido era o Professor Pardal (amigo do Pato Donald, o mais famoso inventor de Patópolis). “Quando ele punha aquele chapéu pensador que acendia aquela luzinha e inventava coisas do nada, eu ficava me imaginando em um laboratório, misturando as coisas, explodindo de vez em quando alguma coisa”.

Sua primeira escolha para curso de graduação, aos dezessete anos, foi a Engenharia Civil, mas como o curso não era oferecido em Campinas, e mudar de cidade estava fora de cigitação para seu pai, a decisão foi cursar Engenharia Mecânica. A escolha foi acertada, porque desde o início, quando descobriu a área de ciências térmicas, ficou encantada e nunca lhe ocorreu mudar o campo de estudo.

Márcia Mantelli é coordenadora do Laboratório de Tubos de Calor (Labtucal)

O desenvolvimento de seu trabalho faz Marcia acreditar que o próximo passo a ser dado é descobrir “como é que se converte essa tecnologia que está em um estágio experimental, mas que está dando certo dentro da indústria, em algo que faça os nossos alunos progredir. Fazer com que eles consigam sair da Universidade e formar empresas sólidas que atendam às necessidades do país num nicho que vem se desenvolvendo há muitos anos e que está tendo aceitação no mercado. Aí sim a gente vai estar convertendo esse bem em uma coisa sólida para o Brasil”.

A Professora afirma que teme a possibilidade de este mercado estar sendo desenvolvido “para ser entregue de graça a uma multinacional. O meu sonho é que a gente consiga estabelecer uma indústria nacional forte, para atender não só à indústria brasileira mas também os outros países”.

Marcia Mentelli é professora universitária no nível de graduação e pós-graduação, desenvolvedora e coordenadora de projetos de extensão e pesquisa, e o Prêmio CLAUDIA 2012 é a 13° premiação que reconhece o seu trabalho. Marcia acredita, porém, que sua trajetória é “mais ou menos bem comum, é aquela coisa que a gente vem fazendo no dia-a-dia, né”.

Texto: Patricia Siqueira

Fotografia: Henrique Almeida