Doutora pela UFSC vence prêmio sobre inovação em tecnologias ambientais

02/05/2013 11:35

A professora Lucila Adriani Coral, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental (PPGEA) da Universidade Federal de Santa Catarina, foi a vencedora do Prêmio Enfil “Inovação em Tecnologias Ambientais”. Sua tese foi defendida em dezembro de 2012 e tem como título “Avaliação da Pré-ozonização no controle de Cianobactérias e degradação de Microcistinas”.

A tese enfoca a purificação de água superficiais, em ambientes com excesso de nutrientes e com presença de cianobactérias. Seu diferencial foi aplicar o ozônio como uma etapa de pré-tratamento, como alternativa para evitar que a presença de cianotoxinas e reduzir o número de células ao final do tratamento das águas.

O prêmio é uma iniciativa bienal da empresa Enfil e reconhece o trabalho de pesquisadores inscritos em programas de pós-graduação cadastrados junto a CAPES, defendidos em 2012. O prêmio valoriza projetos focados no controle de impactos ambientais gerados por sistemas associados ao desenvolvimento econômico e social. O prêmio está na primeira edição e concede, além de certificado, três mil reais para a melhor dissertação de mestrado e sete mil reais para a melhor tese de doutorado.

Na avaliação do professor orientador, Flávio Rubens Lapolli, o prêmio de sua aluna foi merecido. “A Lucila sempre foi brilhante, com um diferencial muito grande”, Segundo o professor, Lucila exerceu uma influência positiva sobre os colegas, ao olhar o trabalho com carinho e responsabilidade, tornando-se uma referência entre os estudantes. “Posso dizer que existe o tempo tempo antes da Lucila e depois depois da Lucila aqui no Programa”, afirma o professor Flávio. “Para mim, este prêmio proporciona uma sensação de missão cumprida e para a UFSC é importante, pois reconhece o trabalho realizado e o cumprimento do nosso compromisso”, completa.

Lucila trabalha hoje como professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná em Curitiba. Ela concedeu à Agecom/UFSC a seguinte entrevista:

– Você concluiu seu doutorado no final de 2012. Quatro meses depois, você recebe a notícia da premiação. O que representa este prêmio para você?
Com certeza, este prêmio representa, acima de qualquer coisa, um reconhecimento pela dedicação e esforço durante o doutorado e um incentivo para continuar no mundo acadêmico e na pesquisa científica.

– Em linhas gerais, sua tese apresenta uma solução que contribui para o tratamento de águas. Qual foi o desafio enfrentado e qual foi sua principal descoberta?
Atualmente, grande parte das pesquisas no tratamento de águas para abastecimento humano buscam tecnologias e processos eficazes na remoção de microcontaminantes/micropoluentes, cuja remoção é limitada quando são aplicados métodos convencionais de tratamento.

As cianotoxinas, metabólitos secundários produzidos por diferentes espécies de cianobactérias, são compostos tóxicos e, devido a seu tamanho, passam facilmente pelo sistema, sendo necessária a adoção de processos avançados de tratamento para sua retenção (como membranas filtrantes, carvão ativado) ou degradação (a partir da oxidação, por exemplo). Existem vários estudos em relação a capacidade de alguns oxidantes, como o ozônio, em degradar algumas cianotoxinas dissolvidas.

No entanto, acredito que o diferencial do nosso trabalho está pautado na avaliação da ação do ozônio dentro das células das cianobactérias. Foi possível demonstrar que as células não são rompidas pela ação do oxidante, como geralmente é considerado. Observamos que a degradação da toxina pode ser feita intracelularmente ou pode ser liberada e oxidada posteriormente. Dessa forma, foi possível eliminar completamente o metabólito da água. Ainda foi observado que a utilização do ozônio como uma etapa de pré-oxidação reduz a formação de subprodutos no início do processo.

Como todos os pesquisadores que trabalham com processos e poluentes ainda pouco conhecidos, posso dizer que o maior desafio teria sido a compreensão do processo e as limitações analíticas, devido a sua dificuldade.

– O que motivou você a escolher este tema para sua tese de doutorado?
Desde a faculdade meus estudos são relacionados ao tratamento de águas. No mestrado, trabalhamos com a aplicação de processos de Flotação por Ar Dissolvido e Membranas de Nanofiltração para a remoção de células de cianobactérias e cianotoxinas. Quando iniciei o doutorado, pensamos em trabalhar com esses processos e processos oxidativos, visto a sua vasta utilização para degradação de diferentes compostos. O tema ozonização partiu, no entanto, a partir do interesse da professora Michèle Prévost, responsável pelo Departamento de Engenharia Civil, de Geologia e de Minas da École Polytechnique de Montréal, Canadá, local onde realizei meu estágio de doutoramento. A professora Michèle desejava avaliar a ação do ozônio na remoção de microcistinas, em decorrência de florações persistentes na Baía Missisquoi, na cidade de Quebéc, um grande manancial de abastecimento da região e que tem seu uso limitado por longos períodos todos os anos. Quando cheguei à Universidade, conversamos e definimos a metodologia de estudo.

– Como você avalia sua trajetória no doutorado?
Minha trajetória no doutorado foi a melhor possível. Como todo estudante de mestrado e doutorado que se aventura na pesquisa científica em laboratório, muitas foram as dificuldades, mas o aprendizado foi surpreendentemente mais significativo. Tive sempre muito incentivo dos meus orientadores brasileiros, professor Flávio Rubens Lapolli (ENS – UFSC), professora Fatima de Jesus Bassetti (coorientadora da UTFPR), e da professora Michèle, que sempre acreditou que poderíamos fazer um excelente trabalho. Tanto na UFSC como na École Polytechnique de Montréal, o suporte técnico-científico e pessoal foram essenciais para o meu aprendizado. Hoje eu avalio este período dedicado à atividade científica como uma oportunidade única, de aprendizado pessoal e profissional, que eu usarei sempre como um incentivo para os meus futuros alunos.


Mais informações:

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Flávio Rubens Lapolli – s.ufsc.br

Fonte: Notícias da UFSC