Colações de grau on-line são alternativa às formaturas presenciais durante a pandemia

01/10/2020 15:35

suspensão de eventos como formaturas e solenidades foi uma das primeiras medidas de contingência anunciadas em razão da pandemia de Covid-19 na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ainda antes de definida a interrupção das aulas e demais atividades presenciais. Desde então, as tradicionais solenidades no Centro de Cultura e Eventos foram substituídas por cerimônias on-line, por meio de videoconferência. Apesar das restrições que o momento determina, alunos, professores e servidores técnico-administrativos têm se empenhado para organizar as colações de grau e proporcionar a melhor experiência possível aos formandos e seus amigos e familiares.

A regulamentação das formaturas por meio de ferramentas ou plataformas digitais foi feita em 16 de abril com a portaria normativa nº 001/2020, da Pró-reitoria de Graduação (Prograd) – um mês após a suspensão das atividades presenciais na Universidade. “A pandemia nos impôs um novo formato de formaturas. Para nós, esse é um ato importante, porque celebra o encerramento de um importante ciclo de formação dos estudantes e permite que possam colar grau e estejam em condições de desenvolver sua atividade profissional junto à sociedade. As formaturas on-line representam hoje uma necessidade de realização das colações de grau para que os formandos possam receber o título”, afirma o pró-reitor de Graduação Alexandre Marino.

primeira solenidade on-line de formatura da UFSC foi a da centésima turma do curso de Medicina, em 23 de abril. Na ocasião, receberam a outorga de grau por meio de videoconferência 46 novos médicos, que se apresentaram como voluntários para antecipar a formatura e, assim, colaborar com o combate à Covid-19. Desde então, foram realizadas dezenas de colações de grau em diversos centros de ensino da Universidade.

Segundo o Departamento de Administração Escolar (DAE), foram expedidos e registrados 239 diplomas para titulados que colaram grau a partir de 16 de abril. O número, contudo, não corresponde ao total de estudantes formados, uma vez que, assim como nas colações presenciais em gabinete e diferentemente das formaturas ocorridas no Centro de Cultura e Eventos, o aluno não recebe o diploma no ato da cerimônia. Em seu lugar, é fornecida uma certidão que comprova a titulação e, até que o diploma seja emitido, pode ser utilizada para registro em conselhos de classe, matrícula em cursos de pós-graduação e posse em concursos públicos, entre outras situações.

Cerimônias, ritos e adaptações

Os ritos seguem algumas formalidades obrigatórias, como o juramento e a outorga de grau. Há, contudo, algumas alterações em relação às cerimônias presenciais. Em sua maioria, a organização das colações on-line fica por conta dos centros de ensino. Sendo assim, a plataforma utilizada, os meios para a participação de amigos e familiares e alguns dos protocolos variam entre os diversos cursos.

A formatura de Medicina, por exemplo, transmitida ao vivo pelo Youtube, foi aberta com um vídeo com fotos dos formandos, teve sua sessão presidida pelo reitor, discurso do orador da turma, paraninfa, patrono e homenageados. Alguns centros, por outro lado, optam por rituais simplificados e pela organização de pequenos grupos por vez, como é o caso do Centro de Ciências Biológicas (CCB) e do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH).

“Como o formato também é restritivo, se tiver 50 pessoas é mais difícil. A nossa orientação é que não tenha grandes grupos justamente para poder ter uma maior atenção. Às vezes acontece de alguém cair ou ter dificuldades para conectar. Os grupos menores são nesse sentido, de apostar numa maior estabilidade da plataforma para que a gente possa fazer a colação de grau sem ter grandes problemas de conexão”, comenta a diretora do CFH, Miriam Furtado Hartung.

As colações no CFH seguem o modelo das que ocorrem presencialmente em gabinete – são cerimônias mais simples e rápidas, sem paramentação, discursos, homenageados ou paraninfos. “Procuro seguir o mesmo padrão, os mesmos procedimentos. Um aluno lê o juramento, os outros repetem, depois eu colo grau individualmente a cada um”, relata Miriam. A participação de amigos e familiares nas videoconferências é autorizada, apesar de ser limitada visando à estabilidade da plataforma e da conexão.

A diretora explica que, em geral, essas colações ocorrem de acordo com as requisições dos alunos às coordenações de seus cursos e misturam formandos de diferentes graduações. Desde o início da pandemia, o CFH teve 17 colações de grau em gabinete, todas on-line, além da formatura do curso de Filosofia, que, por solicitação dos formandos, teve uma cerimônia para toda a turma com sessão presidida pelo reitor, como na solenidade da Medicina. No total, foram 159 alunos graduados.

No CCB, o funcionamento é semelhante. A partir da solicitação às coordenações do curso, os formandos são divididos em pequenos grupos – desde abril, já foram realizadas sete cerimônias, nas quais 34 estudantes colaram grau. O diretor do centro, Alexandre Verzani, destaca o caráter mais informal desses eventos: “Não tem um paraninfo, não tem um discurso de formando, mas a gente, diferentemente do que acontece lá no presencial, sempre dá uma abertura para o pessoal falar. E aí que é bacana. O aluno fala do porquê de ele estar se formando, quais são suas motivações. Então a gente vê se ele vai viajar, vai estudar, vai fazer concurso. E entra esse lado também de agradecer ao pai, à mãe, ao namorado, ao avô, à avó. Ficou um pouco mais distante, porque não estamos presentemente juntos, mas, por outro lado, a pessoa tem essa oportunidade de se abrir, de falar, de agradecer. É um misto. É uma coisa nova”.

Ele conta que a mudança de ambiente proporciona algumas cenas inusitadas, improváveis de acontecer nas solenidades tradicionais: “Hoje, por exemplo, foram quatro formandos, mas no chat tinham umas 40 pessoas. Eles convidam, passam o link. O pessoal às vezes chama mãe, namorado, namorada, cachorro, gato. É bem folclórico. O pessoal vai se empolgando. Tem uns que ficam até emocionados. É bonito. A penúltima teve cachorro, teve gato, teve comemoração de aniversário e teve homenagem a uma mãe”.

No Centro Tecnológico (CTC), por sua vez, há colações nos dois formatos: pequenos grupos em cerimônias simplificadas e turmas inteiras, com oradores, patronos, paraninfos e homenageados. 107 alunos já colaram grau em 13 formaturas on-line no CTC – incluindo as turmas de 2019/2 de Engenharia Sanitária e Ambiental, Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo e de 2020/1 de Engenharia Mecânica, composta por alunos que puderam antecipar a formatura porque necessitavam somente finalizar seus estágios para a conclusão do curso.

Todas as cerimônias são transmitidas ao vivo pelo Youtube, e, em muitas delas, é possível ver formandos comemorando com seus familiares. Alguns improvisam capelos (os famosos “chapéus de formatura”) e canudos, para representar o recebimento do diploma. Outros não dispensam os capacetes de engenheiro. Nas cerimônias de grupos menores, pode-se, ainda, conferir homenagens e parabenizações de amigos e familiares que assistem à cerimônia.

O diretor do CTC, Edson Roberto de Pieri, menciona algumas adaptações realizadas em função da tecnologia utilizada, como o formato do juramento, que “teve que mudar um pouquinho, porque dava muita interferência no som. Então, um aluno faz o juramento, cada um confirma o juramento no chat, e a gente grava isso também, faz um print screen do chat”. Além disso, também há espaço para que cada formando faça uma manifestação, “porque o Jitsi [plataforma de videoconferência utilizada no CTC] foca quando pessoa fala. Então a gente permite que cada aluno fale – aí fazem agradecimentos à família, aos professores – para que tenha uns 15 segundos de foco”.

“No início era bem estranho, porque a gente não estava muito acostumado, mas é que nem as aulas remotas, depois de uma semana a gente vai se acostumando”, salienta Edson. “No geral, o pessoal gostou bastante, achou que foi a solução que era possível naquele momento. Claro, não tem a pompa da colação no Centro de Cultura e Eventos, mas os alunos entenderam que era o que dava pra fazer e foi bem recebido”, complementa o diretor.

Para Miriam, as formaturas são um momento de alegria em meio à situação de restrições e pesar que vivemos durante a pandemia. “A universidade existe sobretudo para a formação de estudantes, de pessoas em níveis de graduação e pós-graduação. Então, ela consegue, mesmo nessas condições, realizar sua função social. Para os professores e para toda a comunidade acadêmica, é um dos momentos mais importantes quando a gente realiza nossa função social, quando a gente forma um estudante e vê ele concluir essa etapa de sua vida”, destaca.

Verzani ressalta ainda que a realização das colações on-line são mais uma evidência de que a UFSC nunca parou. “É óbvio que não é o ideal. O bacana mesmo é a colação de grau no Centro de Cultura e Eventos. Tem aquela pompa, discurso, o reitor, o pessoal arrumado, festa. Mas foi uma coisa que veio e que substitui um pouco. Hoje mesmo eu falei [durante uma colação de grau] que a melhor cerimônia de formatura e colação é sempre a nossa. Lembro da minha, que foi em 1983, em Viçosa. Aquilo marcou aquele momento, e para essas pessoas aqui, acredito que o dia de hoje tenha um significado grande. Não tem a mesma pompa, beca, um monte de gente, mas para cada um é um momento especial”, enfatiza o diretor.

Confira aqui a publicação original desta matéria.

 

Texto: Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC

Fonte: Notícias UFSC

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