Às vésperas da aposentadoria, professor do CTC relembra sua trajetória de quase cinco décadas na UFSC

18/12/2020 02:11

Ainda em 2020, deve sair a aposentadoria do professor Walter Lindolfo Weingaertner, após 44 anos de docência no Departamento de Engenharia Mecânica (EMC) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Se a esse período for somado o período de graduação na mesma instituição, o professor gaúcho se aproxima de meio século de ligação com a UFSC.

“Com exceção do último ano, quando fui colocado diante de novos desafios, como o ensino a distância e atendimento de alunos pela internet, passei mais de um terço do tempo de minha vida dentro das instalações da Universidade ou trabalhando para a Universidade, inclusive sábados e domingos. Com certeza foi mais tempo que o dedicado a qualquer outra atividade que tenho realizado, como dormir, estar com a família ou outra atividade de lazer”, diz Walter, natural de Panambi (RS).

E olha que ele já fez coisa! Aos 14 anos, em São Leopoldo, seu pai notou a curiosidade do menino a respeito de um torno de madeira que tinha comprado. Proibiu o filho de mexer no aparelho e começou a tornear um vaso, mas não o concluiu. “O pedaço de madeira ficou preso entre pontas no torno, e eu doidinho para mexer no torno. Às escondidas, terminei o vaso (com algumas dicas de quem havia vendido o torno ao pai). Aí não tinha mais proibição. De qualquer pedaço de galho recolhido no mato eu torneava manetes para colocar na alavanca de câmbio de fuscas bem como uma capa de proteção do freio de mão, os botões do painel e outros pequenos artefatos. Com eles, ganhava meu dinheirinho, bem maior que a mesada que meu pai dava aos filhos”, recorda. “Também fiz várias esculturas em cedro, timbaúvas, caroba, canela preta e outras madeiras.”

Ele lembra do instrutor de alemão Herbert Willausch que o levou para conhecer o escultor austríaco Adolf Bernhausen, em Gravataí (RS): “Tive seu incentivo para começar a esculpir rostos em nó de pinho.  As poucas ferramentas que tinha não ajudavam muito, pois o nó de pinho é muito duro e exige ferramentas que mantenham o fio e não quebrem”.

O Prof. Walter já demonstrava veia artística em 1970, quando ganhou prêmios diversos no concurso anual de artes do Colégio Sinodal, nas categorias desenho, pintura de aquarela, escultura e até teatro (com uma peça clássica alemã). Em dezembro daquele ano, foi apresentado a Pietro Maria Barbi, diretor do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP). “Ele me levou aos ateliês de vários artistas renomados da cidade e me fez acreditar que talvez tivesse chances de sobreviver no mundo artístico. Mas em uma solenidade, conheci vários artistas que bebiam e tomavam alguns comprimidos. Estavam todos muito loucos. Não era isso que eu esperava me tornar”, pondera o engenheiro conhecido pelo bom humor, mas também pela correção. “Voltei para São Leopoldo sem me apresentar na entrevista marcada para o dia seguinte, com o crítico de arte da revista Veja, Leo Gilson Ribeiro.”

Em 1971, iniciou a graduação em Engenharia Mecânica, sem deixar de fazer artefatos de couro, principalmente chinelos, bolsas, cintos e tiaras trançadas. Vendia o que produzia no Centro de Estudos Básicos da UFSC ou na Praça XV de Novembro, centro da capital. Em 1974 e 1975, trabalhou na empresa Brasmont Engenharia e Montagens, primeiro na construção da Ponte Colombo Machado Salles e depois na obra de um tanque de amônia em Rio Grande. No último ano do curso, durante o estágio recebeu a primeira proposta de emprego, porém aceitou a sugestão de permanecer na UFSC para fazer mestrado com contrato de Auxiliar de Ensino. Em 1977 tornou-se docente na instituição.

Em 1979, o Prof. Walter foi fazer doutorado na maior universidade tecnológica da Alemanha, a Rheinisch Westfälisch Technische Hochschule Aachen (Universidade Técnica de Aachen). A cooperação com a RWTH Aachen foi estabelecida durante a gestão do Reitor Caspar Erich Stemmer, na década de 70. Já a parceria com o Fraunhofer-Institut für Produktionstechnologie – IPT (Instituto Fraunhofer de Sistemáticas de Produção) foi iniciada pelo Prof. Walter, a partir do seu doutorado. “Vi a oportunidade de nossos alunos poderem ser aproveitados na disciplina de Estágio Profissionalizante do Curso de Engenharia Mecânica da UFSC. Depois das primeiras experiências, a ideia mostrou ser um sucesso. Pelo fato de nossos alunos estarem no laboratório 40 horas por semana, com dedicação exclusiva, eram muito mais eficientes que os colegas alemães que apenas cumpriam as 17 horas contratadas. O programa cresceu e o Serviço de Intercâmbio Acadêmico Alemão reconheceu o meu esforço me concedendo o Primeiro Prêmio de Cooperação Brasil Alemanha”, destaca.

Ao retornar à UFSC, o docente do EMC assumiu a coordenação do Laboratório de Usinagem e Máquinas Ferramenta (USIMAQ), nos anos 90 transformado em Laboratório de Mecânica de Precisão (LMP). “Meu sítio em Rancho Queimado foi palco de muitas comemorações com os colaboradores do LMP”, relembra.

Membro da Alumni EMC (Associação de Ex-alunos do Departamento de Engenharia Mecânica da UFSC), o Prof. Walter chega ao final deste ano atípico dando aulas online, orientando trabalhos de pesquisa, sendo membro da ABCM, ASPE, EUSPEN e do Comitê Assessor da Criação dos Centros de Excelência e Universidades de Elite da Deutsche Forschungsgemeinschaft DFG (Alemanha). Suas áreas de atuação incluem Usinagem com ferramentas de corte de geometria não definida (retificação, monitoramento), furação por escoamento, processos não convencionais de fabricação (EDM, ECM, LASER) e projeto e fabricação de sistemas mecânicos de elevada precisão.

Fora da esfera profissional – mas não muito –, sem poder ir ao LMP, o Prof. Walter retomou não só a arte de esculpir aprendida na juventude, mas também outro hábito antigo: produzir as próprias ferramentas. “Fabriquei mais de uma centena de ferramentas com um aço adequado e o trabalho, que no começo levava 3 dias, se reduziu para um dia”, afirma.

Atualmente o Prof. Walter se divide entre fazer arte, instalar painéis fotovoltaicos no telhado da casa, e compartilhar imagens de máquinas e de natureza com os mais de mil amigos que tem no Facebook, sem falar nas reuniões com filhos e a esposa. Aguarda a vacinação contra Covid-19 para fazer mais: “Temos viagens compradas e pagas que não puderam se realizar por causa da pandemia. Como aposentado, enquanto a saúde permitir, temos planos de conhecer ainda muitos lugares”, conclui.

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Texto: Heloisa Dallanhol

Fonte: Divulgação EMC/UFSC

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