Publicado em revista científica, estudo aponta circulação do SARS-CoV-2 em Florianópolis em 2019

19/03/2021 14:44

O SARS-CoV-2, também conhecido como novo coronavírus, causador da doença COVID-19, já estava em circulação na capital catarinense, antes mesmo do primeiro caso de infecção registrado no Brasil. É o que aponta um estudo coordenado por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade de Burgos, na Espanha. Na segunda-feira, 8 de março de 2021, a pesquisa foi publicada pela revista Science of the Total Environment, jornal acadêmico internacional com alto fator de impacto.

O estudo confirmou a detecção do vírus na rede de esgoto de Florianópolis em novembro de 2019. Em entrevista ao portal de notícias ND+, Gislaine Fongaro, professora da UFSC e uma das responsáveis pelo estudo, explica que, na prática, isso significa que Florianópolis provavelmente já tinha infectados pela doença naquela época, bem antes das primeiras confirmações, em março de 2020.

“Nosso grupo abriu caminhos para outros grupos pesquisarem eventos anteriores e isso tem sido muito importante. Esse artigo já possui mais de 100 citações”, diz Gislaine Fongaro.

Além de Gislaine, o estudo é assinado por Maria Elisa Magri, professora do CTC, e outros 10 profissionais da UFSC. São eles: Patrícia Hermes Stoco, Doris Sobral Marques Souza, Edmundo Carlos Grisard, Paula Rogovski, Marcos André Schörner, Fernando Hartmann Barazzetti, Ana Paula Christoff, Luiz Felipe Valter de Oliveira, Maria Luiza Bazzo e Glauber Wagner.

 

Florianópolis já tinha infectados pela COVID-19?

Segundo Gislaine Fongaro, na matéria do ND+, tudo indica que o vírus tenha circulado na Capital por um tempo e até infectado algumas pessoas antes de ser descoberto.

“A circulação no esgoto afirma que sim, tivemos infectados ou assintomáticos ou não diagnosticados, pois nem sabíamos da existência do vírus ainda”, explica a professora do Departamento de Microbiologia da UFSC.

No entanto, a doença leva um tempo para começar a provocar surtos de contaminação, conforme descreve a pesquisadora. Os resultados indicam que a carga viral permaneceu constante de novembro de 2019 até março de 2020. Porém, na sequência, sofreu um grande aumento que coincidiu com o aumento de casos oficiais em todo o Estado.

“O vírus não tem dia e hora para entrar em um território. Assim, ele vai circulando e, quando muitos indivíduos já estão contaminados, encontram-se grupos mais suscetíveis e assim se dá a história das enfermidades”, esclarece.

A dinâmica de dispersão do vírus na população ainda é estudada pelos pesquisadores, informa Gislaine. Ainda não há confirmações de casos da época, ou uma projeção de quantas pessoas tiveram a doença ainda em 2019.

 

O estudo

Conduzido por 14 profissionais, o estudo foi realizado majoritariamente por pesquisadores da UFSC, em Florianópolis, e também por especialistas da divisão de Microbiologia da Universidade de Burgos.

Ele consiste na análise das águas residuais humanas da rede de esgoto da capital de Santa Catarina, no período de outubro de 2019 a março de 2020. Diferentes sistemas de RT-qPCR detectaram o patógeno.

Os produtos de RT-qPCR foram sequenciados para confirmar a identidade com o SARS-CoV-2. Além disso, foi feito um estudo de sequenciação completo das amostras de água de esgoto.

O artigo foi publicado pela revista Science of the Total Environment após revisão de pares.

 

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